13 de agosto de 2010

7 PALMOS


Seria cômico se não fosse trágico. EU, EUrico e EUstáquio, ali sentados entre nossos velhos amigos, comemorando mais uma década de alegria conjunta. Estávamos felizes, mesmo depois de tantas glórias e quedas em combates numa guerra que parecia não ter fim. Como que em devaneios febris, voltávamos a viver (mesmo que em pensamento)... Nossos primeiros encontros, chegávamos a ouvir a música do baile de primavera, a sentir o perfume de nossas garotas, mesmo antes de degustarmos o sabor inconfundível das noites e madrugadas banhadas de wisky e ilimitadas caixas de charutos.

Agora deixávamos mais uma vez nossos entes queridos para trás, na espera por nosso retorno, como aconteceu alguns anos atrás, quando íamos para mais uma missão mares afora. Mas desta vez seria diferente, um de nós não retornaria para casa.

Qual dos três EU's ficaria para trás?

Qual dos três (mesmo tão amigos) ficaria com o amor daquela moça que tantas vezes os tentou convencer a ficar em sua companhia?

Seria justo abrir mão da bela Dama sempre envolta de elegantes vestes negras, por um daqueles EU's tão amigos?

Depois de enfrentarmos tanta coisa juntos, era a hora e vez de apenas um de nós ficarmos com o prêmio de consolação.

Na verdade, aquele que não haveria de retornar para casa seria EU. Para mim restaria o brinde por participação. Depois de tantos confrontos, tantas lutas, tantas batalhas ao lado de mEUs dois amigos, fui o derrotado. Vencido por EUrico e EUstáquio, com a ajuda daquela Dama. Os dois EU's foram os escolhidos por ela para encontrar com o Senhor do Tempo, que a tempos procurava por aqueles dois jovens oitentões.

E EU com o que fiquei? Perguntas agora.

Meu consolo foi permanecer vivo, enterrando agora meus dois queridos amigos, que com a bela Dama de Negro, a MORTE, foram se explicar. Me peguei mais uma vez sobre um túmulo aberto, conversando com as almas da lembrança que o Senhor do tempo me permitiu ficar. A mais recente destas a última pá de terra acaba de enterrar.


6 de agosto de 2010

Atemporal


Hoje não é um dia muito diferente de ontem, o mesmo silêncio, a mesma monotonia, o mesmo desânimo... Que me cerca, acompanha, aprisiona. Uma nuvem pesada toma conta do meu céu acinzentado, e lágrimas, lágrimas e mais lágrimas caem por minha face. Algo tenta saltar da minha boca... É um grito da dor que há tempos me assombra, me entristece, absorve, toma minha vontade e desejo de existência.

O mundo sabe quantas vezes pensei em dar-lhe adeus, esquecer o que vim fazer de fato aqui, nesta terra onde homens destroem uns aos outros, desviam as chances de sucesso do outro como quem desvia um rio de seu curso rumo ao mar e a imensidão de oportunidades, de infindáveis limites.

Mas, sinto que posso sair. Romper com a espacialidade dessa bolha que me envolve, sei que um dia sairei. Abortarei toda e qualquer forma de vida que ouse enfrentar-me, invadir o espaço atemporal onde respiro esse ar poluído que me causa náuseas, mas que alimenta esse corpo fraco e debilitado, que se arrasta por entre dejetos, restos humanos e de humanidade.

O bicho homem toma cada vez mais forma de bicho, com selvageria, extinto assassino, capaz de tomar a vida e inocência de sua prole. O horror é perceptível num simples olhar, frio, maligno, sem qualquer presença de caráter, aliás o problema se fixa exatamente nisso. Nada pode ou consegue abalar as muralhas que separam o homem dele mesmo, ele perde-se em todo e a cada momento, soma-se a ele traços de uma serpente, pronta para dar o bote em sua presa.


O que importa


O que importa nesta vida senão vivê-la intensamente.

Viver tudo o que nela se pode viver, criar, sonhar, amar. O que importa senão viver, cada momento, cada sorriso, cada olhar, cada lágrima, cada gota de suor, sacrifício, de cada abrir mão pela felicidade do outro.

O que importa senão criar, criar oportunidades de se fazer a diferença, de fazer-se diferente... Do que se foi ontem, do que se é hoje, para se tornar diferente amanhã. O que se importa senão sonhar, sonhar com o que se pode tornar possível sempre, sonhar com o que se espera, se quer, se vai conseguir ter, ou com o que já se tem mesmo não se sabendo.

O que importa senão amar, amar tudo, todos, amar a você, a ele, a nós, e porque não amar a mim mesma? Amar na fragilidade de se estar vivo, amar na oportunidade de se criar o amor. Amar no sonhar de se estar amando e de amar também. Portanto, pra mim o que importa mesmo é manter a harmonia desses quatro verbos que a todos os tempos e modos posso conjugar.