1 de maio de 2011

Pôr do sol


Parecia sozinha quando coloquei meus olhos sobre ela.


Pensativa, dava a entender que sua mente viajava por entre campos longínquos. Sua expressão era de alguém que estava compenetrada em outra dimensão, tão logo notei uma lágrima a escorrer por sua face.

Aproximei-me, devagar, tomando cuidado para não assustá-la. Quando delicadamente virou e me viu, pude perceber a doçura naquele olhar molhado, de uma sensibilidade sem limite. Ela estava triste, parecia cansada, sem ânimo para qualquer que fosse a ação.

Tentei tocá-la, não me deixou. Era como se a tivessem mantido presa num local escuro por anos, longos anos.

Na verdade, fora ela quem se fechou para o mundo, temia a dor, o sofrimento, a idéia de ser deixada novamente a fez tomar tal decisão. Quando criança conheceu o abandono, a ausência do amor, do carinho de uma família, seu mundo girava sobre a incerteza.

Agora, o que a fazia portar-se assim era o contrário. Ela permitiu que conhecessem o que havia dentro de si, seus sentimentos, a maneira como cada pessoa era vista e agraciada por seu coração. Os devaneios, as eloqüências, os sentimentos, tudo precisava ser dito. Sabia que isso a fazia bem.

Suas lágrimas, várias lágrimas, um poço criara a seus pés. Seu silencio era perturbador. Olhei-a por um longo tempo, pensei sobre o que dizê-la, qual palavra usar num momento como aquele.


Foi quando uma brisa suave bateu sobre nós, num impulso peguei-a entre meus braços, e a levei para dar alguns passos pelos arredores de onde estávamos. Mostrei-lhe como era o mundo do qual se fechara, que nem todos eram como imaginava, e que havia muito mais a se ganhar do que perder.

Contei-lhe que ainda que viesse a se decepcionar com as pessoas, é necessário se deixar envolver por elas. Dar-lhes a chance de tentar acertar, correr riscos, tudo isso é preciso para encontrar a felicidade, encontrar pessoas que estejam dispostas a também ser felizes estando ao seu lado.

Caminhamos mais um pouco, e um pouco mais lhe falei. Depois de muito resistir, ela agora já sorria, e que belo sorriso era aquele, talvez o mais simples e belo que eu já tenha visto. Foi então que percebi algo diferente no semblante daquela jovem, ela precisava apenas de alguém que quebrasse o silêncio que a cercava.


Despedimo-nos num demorado abraço. Parecíamos não querer aquele adeus, mas precisávamos, a vida deve continuar.

Segui estrada a fora. Ela seguiu também a dela, mas, um pouco de mim se foi com aquela menina, porém, o que levara consigo, fora apenas um pouco do que tenho de muito a dar.

À luz daquele pôr-do-sol, conclui que, o amor que se tem no coração, quando dado, apenas acrescenta. Estar disposto a dar-se pelo outro, sem exagero, é ver-se completado por ação do amor gratuito de Deus.