12 de setembro de 2011

Ella e o Tempo


Um lençol branco preso a parede de um quarto escuro. No canto, alguns papéis rabiscados, várias folhas amassadas, e um corpo jogado sobre a cama. Era Ella.


Há dias tentava escrever sobre o que sentia, mas não conseguia. Escrever tornara-se uma tarefa bem mais difícil depois que colocara gotas de seu sangue no último texto. Desconfiava que houvesse ido longe demais ao que desejara obter através daquelas palavras.

Poderia não ter feito aquilo, muitos a aconselharam não entregar-se daquele modo, dando ao outro a oportunidade de ver através da janela de seu coração. E o que foi visto, parece ter assustado.

Ella ainda não entendeu, talvez, nunca chegue de fato a entender...

Na casa ao lado, um barulho estranho... Pareciam estar jogando a louça contra a parede, e pelo visto, ainda havia vários pratos para se quebrar.



Voltou para o quarto. Tão logo que colocou a cabeça sobre o travesseiro, começou a vê-lo projetado em mais um de seus devaneios noturnos... Lágrimas quiseram rolar sobre sua face, percebeu que não tinha como engoli-las, não desta vez. Então para o banheiro foi, abriu o chuveiro, deixou que as lágrimas corressem por seu rosto como a água pelo corpo.


Havia tentado de tudo. Tentando fugir daquilo que parecia pesar em seu peito, começara a enxergar outras possibilidades, pena estas serem por demasia arriscadas e impróprias ao que Ella havia pregado a si mesma por toda a vida. Achou melhor não arriscar, assim não perderia o controle sobre ela mesma.



Ella tinha algo a dizer... Disse. Ella tinha algo... Algo que perdeu ao dizer.

Para Ella, restava um caminho: Colocaria seu coração aos cuidados do Tempo, que talvez, com sua vasta experiência, seu conhecimento prático e teórico, saberia como responder as indagações que insistiam permanecer nos pensamentos dela.

Longe dali, ele pode não saber, mas há alguém que insiste em não desistir e que irá esperá-lo... Ella.