29 de março de 2015

Sobre rir das próprias quedas


Ella e Eleonor costumavam conversar sobre tudo, sobre o princípio e fim das coisas, sobre a carreira que pretendiam seguir (assim que desfizessem as amarras das incertezas que as acompanhavam), sobre música (apesar do gosto musical oposto), livros, cinema... Sobre as mais variadas dietas e dicas de como usar e abusar de alimentos naturais, sobre todo tipo de notícias, desde as que estampavam manchetes de jornais até aquelas notas ridículas sobre o mundo dos famosos e cultura pop no geral.

Mas se havia uma temática constante nas conversas de Eleonor e Ella, estavam lá as suas próprias vidas.

As duas jovens costumavam partilhar suas experiências no "planeta terra" ou mesmo mas suas versões próprias de #OFantásticoMundoDeBob.

Apesar da pequena diferença de idade entre elas, Ella e Eleonor eram de uma mesma geração, mas de criações diferentes.

Eleonor experimentou e explorou bem a liberdade que lhe foi dada. Era sagaz, impulsiva, audaciosa, mas sobretudo, era corajosa. Foi capaz de ir a luta, de dar o troco, de viver o prazer da vida nas oportunidades que lhes foi dada (ou mesmo as que ousou criar).

Ella por sua vez, cresceu em meio às regras e ao regime de sentinelas de seus pais. Não foi muito além da esquina e nas vezes em que tentou pular o muro da prisão invisível que lhe foi imposta, voltou com os braços e os joelhos arranhados, mas sobretudo, ao voltar era a sua alma sempre a mais ferida.

O bom de o tempo passar é que, com o passar dEle, Ella ficou mais forte ou pelo menos, mais precavida.

Em vez de se manter o dia inteiro triste, ao ficar trancada no calabouço transparente que seus pais haviam construído, Ella passou a escrever sobre ela mesma.

Uma garota forte mas que, sem perder a doçura, ria dela mesma. Conseguia arrancar uma boa lição e um sorriso, até mesmo de uma queda em que havia lhe arrancado junto um pedaço de pele.

Ella era o tipo de menina que começou a se descobrir mulher só depois dos 30. Era do tipo que viu e assistiu muito da vida para só depois passar a querer de verdade e fato viver.

Mesmo que não pareça, Ella se diverte e consegue ser feliz na sua quietude também, na solidão que lhe é intrínseca, nos contos que escreveu durante muito tempo para ela mesma.

Outro dia, ouvi uma de suas conversas com Eleonor e na qual dizia: "A vida é mesmo um teatro maluco, no qual seguimos o script que nos é dado pelas circunstâncias."

Como era de costume, Eleonor sorrindo a chamou de lesa e ao que Ella logo em seguida respondeu sem 'titubear': "Que graça teria Eleonor, sem esse meu dom de escrever roteiros cinematográficos de comédias românticas e dramas com a própria vida? Você tem sorte de conhecer o processo criativo por trás dessas futuras obras de arte da literatura e do cinema de E.L Smith (em referência e homenagem à J.K Rowling de 'Harry Potter' e de C.S Lewis de 'As Crônicas de Nárnia')".

Enquanto elas caminhavam gargalhando à minha frente, um pouco mais contido eu ria e achava graça do quanto uma queda podia impulsioná-la cada vez mais. Essa Ella...