30 de maio de 2010

Amor, amada, amante


Lá está Ela.
Observadora, contemplativa, solitária, é como se apresenta na maior parte das vezes. Mas sobretudo bela, encantadora, um fascínio. Ela, sempre acima de tudo e todos, os que desejam vê-la devem elevar seu olhar às alturas.

Por mais que não haja alguém que tenha sentido seu perfume, sinto-me embriagada só em pensar como deve ser respirar o ar que a envolve. Como pôde um homem pisar sobre ela, como pôde feri-la penetrando uma lança em seu corpo. Tudo o que eu queria na verdade era estar com Ela, ser sua companhia, sua companheira, ser sua amiga.

Gosto da solidão, aprendi a viver com sua presença constante, também, era a única presença com que podia contar. E agora posso unir a bela solitária, a solidão e minha própria solitude, posso viver um excitante triângulo amoroso.

A Lua, a Solidão e Eu, nos completando perfeitamente. A Lua que do alto me observa, a Solidão que entrelaça a mim e minha amada amiga, e Eu que, mesmo sendo uma simples e pobre mortal me apaixono a cada momento por essa relação de trocas de experiências e sentimentos.

Queria como o Pequeno Princípe de Exupéry pegar carona na calda de um cometa e até ela poder chegar. Seríamos Eu, a Solidão e Ela, com o mundo a observar, a nós, a tríplice coroação de musas que no céu iriam enfeitar.

Vestidas em tecidos finos, esvoaçantes.

Brilhantes eram as jóias que nos cobriam, em forma de pequenas estrelas, pedras preciosas de todos os planetas deste e de outros universos.

Agora vestidas a cárater, entraremos no banquete que para nós foi preparado. Um lindo tapete de nuvens nos leva até nossos tronos, e lá estão os servos e serviçais com taças e mais taças de um delicioso e celestial vinho. A cada gole vejo que tudo ao meus redor ganha vida e movimento.

Movimentos psicodélicos, cores mais que vibrantes, e começo a girar e girar no salão ao som de uma sinfónica e harmoniosa composição angelical. E ganha velocidade meus giros, e o chão sobre meus pés se perde, se desfaz, e caio, desabo... A música se distancia, e vem logo o silêncio...

Ao cair em mim mesma, abrir meus olhos... Lágrimas começam a rolar, tudo não passou de um sonho, um lindo e maravilhoso sonho... De um Amor, de uma Amada e de um Amante.

Silenciar


Vozes ouvidas no silêncio de noites vazias. de pensamentos vagos, de infinitas ausências... De pensamentos, de pessoas, de momentos.

A saudade resolveu encontrar abrigo no meu coração, aproveitou a falta de fechaduras, de trancas e cadeados. O alarme de segurança não disparou, permaneceu mudo, quieto.

As luzes não se acenderam, consumiu-se as chamas da vela que tentava trazer um pouco de vida aquele lugar, sujo, escuro, úmido, com cheiro de mofo.

Podia-se ouvir ao longe os gemidos da dor que consome pouco a pouco, o motivo, a razão, e a essência do meu existir, do meu viver, do meu estar, do meu querer.

A espera é longa, atravessa estações, rompe fronteiras, de maneira a dizer que já não há mais no que se crer.

Agora sou um objeto, um elemento, um ponto que se perde, se perdeu, perde-se a todo, em e a cada instante.


Não há cores, há sombras.
É um cubículo, um cubo, uma jaula.
É uma corda: prende-me, açoita-me, enforca-me, sufoca-me.



A maré sobe, ondas debatem-se sobre mim. Engulo água, é amarga, pesada, não aguento. Não consigo nadar, como não consegui nada na vida. Estou afundando, chegando no fundo do mar, sem apoio, sem socorro, sem ninguém.

Meu corpo... Já não sinto.
Minha vida perece, meu olhar vê apenas uma nuvem sombria, embaçada noite de espíritos que me cercam e me vestem para minha partida.

Meu tempo está se esvaindo, se esvai, se vai, se foi...