De sobrancelha arqueada perguntava a si mesma o que teria feito na noite que antecedeu aquela manhã cinzenta.
Desenho: Cássia Gomes |
Na boca sentia um gosto estranho, na pele um aroma forte e na cabeça... Na cabeça, uma sensação de dor e dúvidas. "Mas, o que foi que eu fiz?!" - perguntava aquela imagem abatida refletida no espelho do banheiro.
Escovou os dentes, lavou e secou o rosto. Deitou sobre a cama totalmente desfeita, como que se nela tivesse havido uma verdadeira guerra.
Num repentino salto, teve a impressão de ter tido mais alguém ali por perto e há pouco tempo. Podia sentir que outros olhos contemplaram aquelas quatro paredes que a cercava. Ainda era possível sentir a sua presença.
Voltou ao banheiro, se despiu e colocou a cabeça embaixo da água quente, que ao bater sobre suas costas a fez sentir dor e descobrir os arranhões deixados sobre sua pele. Não sabia se haviam sido feitos por unhas, garras ou espinhos de árvores.
Ella voltou para a cama, percebeu que haviam traços de outra pessoa deixados ali. "Mas como? Não sai nem trouxe ninguém aqui, tenho certeza disso. O que está acontecendo?!" Ainda transtornada, pegou a última dose da garrafa de conhaque que seu ex havia deixado na terceira gaveta do criado mudo.
Foi aí que as sombras foram se desfazendo e as dúvidas dando lugar a uma certeza monstruosa... Seus olhos, encaravam a outros que se entre olhavam em si mesmos. Afinal, com que olhos Ella se olhou?!
Ao recordar a noite passada, foi pressionando com uma força descomunal aquele copo de bebida que carregava à mão. E os lençóis brancos foram sendo banhados pelo sangue dElla.
Percebendo o que havia feito, tentou estancar o sangue e fechar as feridas abertas entre a palma de sua mão e seus dedos.
Era tarde, porém, para estancar a ferida aberta em seu peito.
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